Escolhemos Buenos Aires para uma rápida fuga de comemoração dos 30 anos da Marina, de quarta-feira a domingo. Descobrimos já no aeroporto que a lenda de validade do RG como documento realmente não é verídica, porém, seu estado de conservação é sim um fator determinante. O Bruno estava com o RG “roto”, destruído, como nos disse o atendente da alfândega argentina, e isso quase nos custou uma deportação. Fica aí o aviso pra manter seus documentos bem conservados, independente da data de expedição.
Nos hospedamos no recém-inaugurado Selina Palermo Soho que, apesar do clima mais despojado de hostel, é muito aconchegante. A localização não poderia ser melhor, rodeado dos restaurantes e bares mais legais da cidade, próximo ao metrô e cercado por ruas extremamente convidativas para passeios a pé a qualquer hora do dia ou da noite.
Antes da viagem, Marina selecionou alguns restaurantes e cafés que gostaria de visitar, então, assim que fizemos o check-in, corremos até o primeiro deles, o café Salvaje Bakery, localizado do Distrito do Audiovisual, também conhecido como Palermo Hollywood, por abrigar a faculdade de cinema e algumas estações de rádio e televisão.
O Salvaje Bakery nos interessou pela proposta de brunch com cafés especiais, pão produzido no local e ingredientes orgânicos. Rústico e fresco. Vale muito a visita pela manhã ou final da tarde. Fomos a pé a partir do hotel, uma caminhada de aproximadamente 20 minutos que já nos permitiu conhecer um pouco do bairro.
À noite, para o jantar de comemoração do aniversário, fomos em um restaurante chamado Tora, que encontramos através do Instagram de residentes de Buenos Aires. Achamos a ideia bem legal, já que estávamos querendo fugir do básico carne e papas fritas. No local, que fica em Alto Palermo (cerca de 2 km do hotel), descobrimos que além de um cardápio surpreendente, culinária asiática com um toque moderno, a atmosfera é uma delícia, de luz baixa e decoração clássica chinesa com móveis contemporâneos. Para ficar ainda melhor, o custo para entrada, prato principal e dois drinks ficou em torno de R$ 120 para o casal. Um brinde aos trinta!
Na manhã seguinte, pegamos o metrô na estação Plaza Italia e fomos em direção ao centro para um passeio pelos pontos mais turísticos. A primeira parada foi no café O Gato de Ri, citado em todos os guias que consultamos. É um café de arquitetura nouveart au, com várias opções de chá (para tomar no local ou para levar a erva). Não gostamos muito do ambiente, pouquíssimos clientes e preços altos. Nos pareceu um daqueles lugares que já teve seus tempos de glória, mas que enfrenta agora uma certa decadência.
Também passamos pela Livraria el Ateneo que fica dentro de um belíssimo teatro. Continuamos pela Calle Florida (que matou nossa saudade da Rua 25 de Março), Avenida Nove de Julho, até chegarmos na Casa Rosada, sede da presidência. Nesse percurso, passamos pela pequena, porém charmosa, Plaza Libertad, onde as pessoas que trabalham e moram nos arredores parecem frequentar para tomar um sol e comer um sanduíche na hora do almoço.
Almoçamos em Puerto Madero. Aqui, as impressões foram contrastantes. É um espaço bonito, que valorizou uma grande área da cidade, porém, é uma pena que a maioria dos locais tenham sido ocupados por franquias de lanchonetes e restaurantes internacionais. Foi difícil encontrar um bom lugar regional em meio aos fast-foods de sempre.
Mas a noite nos trouxe uma das melhores experiências da viagem, o pequeno e elegante El Preferido, restaurante vizinho do hotel, que resgata receitas e ingredientes tradicionais argentinos, com toques da culinária catalã e basca. Novamente ficamos encantados com a atmosfera, o serviço impecável e pratos deliciosos. Queríamos jantar lá nos outros dias, mas tínhamos outros lugares para ver e ir. Não deixem de conhecer, façam reserva antecipada pelo site e finalizem o jantar com as panquecas com doce de leite, são inacreditáveis.
Na sexta-feira fomos até a feira de San Telmo. Por ser um dia de semana, estava relativamente vazia, visitamos alguns antiquários e seguimos a pé para o Caminito, passando pela La Boca. Foi uma caminhada de aproximadamente uma hora que deu outro panorama da cidade, mais rotineira, sem muito charme, porém autêntica. Os arredores da Bombonera são extremamente desérticos e não parecem muito seguros para um passeio a pé nos dias em que não há jogos. O Caminito é colorido, movimentado e basicamente voltada para o turismo. Desistimos de almoçar por lá e escolhemos uma cantina italiana familiar atrás do estádio, a Il Materello. Comida e preços honestos com ambiente tranquilo, parece um local frequentado exclusivamente por funcionários das empresas da região, bom sinal.
Para começar a noite, fomos conhecer o bar no terraço do hotel. Tem uma vista linda do bairro mas a comida (petiscos e pequenas porções) não compensou o valor. Seguimos para o próximo destino, uma noite de tango em um espaço indicado por um funcionário do Selina: o clube La Catedral.
O local, um grande galpão, funciona como um espaço de experimentação de dança, palco para shows e apresentações e aulas coletivas de tango. Compramos o ingresso para a aula e entramos. É difícil descrever como o espaço é simples e complexo ao mesmo tempo. A decoração é caótica, quase bagunçada, mas a luz baixa e a informalidade dos atendentes deixou todos muito à vontade. Pedimos uma empanada e uma garrafa de vinho, não gastamos mais de R$ 10 reais com o pedido. Após alguns minutos, o professor e fundador do espaço, Federico Prado, iniciou a aula. Éramos turistas, pessoas da região e amigos dos funcionários, aprendendo o básico do tango de maneira didática e muito, mas muito simpática. Os gestos e a fisionomia de Federico nos lembraram do Dustin Hoffman, o que deixou tudo mais divertido. Dançamos, ouvimos música e saímos felizes pela descoberta do espaço.
No sábado programamos um piquenique na Plaza de las Naciones Unidas, onde está localizada a gigantesca escultura Floralis Generica, de Eduardo Catalano. Antes, passamos pela feira da Plaza Julio Cortázar, que lembra a nossa feira da Benedito Calixto, e visitamos o Centro Cultural Recoleta, um misto de museu e centro de ensino das artes. O local é lindo, ao lado do Cemitério da Recoleta e da imponente Faculdade de Direito. Seguimos para o piquenique, nos pés da escultura, onde aproveitamos a tarde de sol. No final do dia, seguimos caminhando pelo bairro e paramos para comer em uma das unidades do El Club de La Milanesa, uma franquia muito popular em Buenos Aires, que serve, bem, milanesas, com diversos acompanhamentos. Foi ótima para matar a fome antes do jantar.
Descansamos um pouco no hotel e saímos para conhecer o Victoria Brown, um bar inspirado no estilo steampunk (uma mistura de velho-oeste com futurismo e punk). O local fica em Palermo, literalmente escondido nos fundos de um restaurante japonês, o que nos deu um trabalho para descobrir, mas que ofereceu um charme especial ao local. A apresentação dos drinks e decoração do local são extremamente teatrais e divertidas e os petiscos são ótimos.
No domingo, antes de retornar para São Paulo, fomos tomar café no Padre, uma cafeteria enorme, também em Palermo (sério, fiquem hospedados nesse bairro), com um dos cardápios de brunch mais apetitosos que já vimos. O serviço foi muito atencioso e a trilha sonora, aparentemente de bandas locais, completa a experiência.
No geral, a viagem, apesar de curta, nos permitiu explorar sem muita pressa um pouco de Buenos Aires e sua gastronomia e vida noturna. Evitamos os locais mais famosos e ficamos felizes com as descobertas. Vale um aviso sobre os apps de transporte, os motoristas foram, com pouquíssimas exceções, péssimos, mas como os trajetos eram curtos, não tiraram o sabor de nada da viagem. Marina voltou um pouquinho mais velha e muito mais bela e o Bruno já fez seu RG novo.
Viva a Argentina!
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