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Os prazeres da boa mesa uruguaia por Raphael Luna

Filha pequena em casa, pouco tempo de livre de viagem, e várias passagens por Buenos Aires. Qual destino sobra na América do Sul? Montevidéu. E para lá, rumamos.

Dia 1 – A chegada

A chegada em Montevidéu foi tranquila, perto das 17 horas. O aeroporto é muito bonito e organizado, e já adianto que a última dica do post tem a ver com o aeroporto. Pegamos o táxi oficial, que corresponde à 1.300 pesos (por volta de R$ 130) e em mais ou menos 40 minutos chegamos ao hotel. Chegamos aqui à Dica #1: não faça o câmbio no aeroporto, mesmo com as promoções em que garantem o melhor câmbio. É mentira! Faça na cidade que é muito melhor.
Aproveito e emendo a Dica #2: os hotéis perto do Bairro Sur ou Cidade Vieja são os mais perto do centro da cidade e dos pontos turísticos, porém são os mais deteriorados – até o Radisson mostra sinais de envelhecimento. Os hotéis mais longe, em Punta Carretas e outros, são mais novos e perto de bares e restaurantes mais novos também. Tudo gravita em torno das preferências dos viajantes.

Devido ao frio, ficamos entocados no hotel e saímos apenas para jantar, graças à dica da recepcionista do hotel. Nosso destino foi o Parada Sur (Paraguay x Carlos Gardel, bem na esquina). Ótima dica, lugar para os locais, só havíamos nós de turistas. Dividimos uma boa picanha na parrila, com batas fritas com molho de 4 queijos. Só que todos os vinhos bons eram argentinos. Bebemos um bom Trapiche Malbec 2012, que estava perfeito em harmonia com o prato. De sobremesa, que estava tão boa que nem deu tempo para a foto, um brownie com mousse de doce de leite e suspiro. Perfeito. Ah, e o preço da refeição para dois custou pouco mais de 800 pesos (por volta de R$ 80).

Ótima opção de jantar com uma pegada local, Parada Sur.

Desse primeiro dia, sobra a Dica #3: sempre que você faz uma refeição em um restaurante de Montevidéu e paga com cartão de crédito internacional. o governo devolve por volta 20% de desconto do imposto. E quando você paga com Visa (sem propaganda, juro que não ganho nada deles), o desconto é instantâneo.

Dia 2 – Vinho!

Havíamos marcado com antecedência uma visita à Bodega Bouza. Andamos um pouco no centro de Montevidéu, conhecemos um pouquinho do centro e pegamos um táxi na rua com destino à Bouza (Camino de La Redención, 7658). A viagem não durou nem 20 minutos e custo por volta de 400 pesos (R$ 40). Chegamos à Bouza, e fomos muito bem recebidos. Detalhe: todos os visitantes eram brasileiros.
Entrada da Bodega Bouza
A propriedade é pequena, o tour é simples e mostra os vinhedos, a cave, a coleção de carros antigos (dispensável) e se você optar pela degustação, termina no luxuoso restaurante com a parte mais esperada da visita. Lí em vários posts que era necessário reservar o restaurante junto, mas eu não reservei e pude almoçar mesmo assim. A degustação clássica de 4 vinhos custa 750 pesos por pessoa (R$ 75) e vem acompanhada por uma tábua de queijos, embutidos e uma bela cesta de pães quentinhos e bem feitos. Ganhei de brinde a degustação do Parcela Única Tannat B6, que é dos mesmo nível de um Marques de Casa Y Concha (diria meio degrau melhor).
Ótima degustação!

Depois da ótima degustação, não nos restava nada à não ser almoçar por lá mesmo. E o restaurante é muito bom! Requintado, boa cozinha e na minha opinião, minha segunda melhor refeição em Montevidéu (a melhor eu conta mais para frente). Almoçamos um belo filé mignon e uma picanha de cordeiro, seguidos de mais Parcela Única Tannat B6. A salada que veio com o filé tinha um molho de Tannat que era bem interessante. A sobremesa, foi a melhor de todas: petit gateau de doce de leite com sorvete artesanal de banana. De raspar o prato. O restaurante é meio carinho, a cuenta sai por volta de 3.400 pesos (R$ 340), mas valeu cada centavo – e teve desconto do imposto de novo!

Prato muito bem executado.

Sobremesa inesquecível.

Esperamos nos jardins enquanto o táxi que pedimos não vinha. Minha opinião sobre a Bouza? É fácil: lugar pequeno, que faz bons vinhos (toda a colheita é feita por apenas dois empregados), repleta de brasileiros para os tours, que entrega uma visita à vinícola bem fraquinha, e que ao contrário do que se lê por aí tem uma visita a um “museu” de carros antigos bem chata. Mas o final, com uma ótima degustação de vinhos e um excelente almoço, compensa tudo.

De táxi, fomos ao centro de Montevidéu visitar o teatro Solis. Visitas guiadas em português, ao módico valor de 50 pesos (R$ 5) a cabeça. Pessoas simpáticas e nave principal de cair o queixo. Vale a pena? Não valeria, mas como o centro de Montevidéu não tem muita coisa para ver, você tem que fazer, até para cumprir umas milhagens de cidade. Acabou a visita ao teatro, resolvemos andar para o lado contrário do centro, para conhecer. Muitas lojas, nenhuma imperdível. Muitas galeriazinhas ao longo da rua, cheias de produtos falsificados. Voltamos para o hotel.
Animados com a dica da recepcionista do nosso hotel no dia anterior, resolvemos acatar outra dica: jantar no Ruffino, um italiano (San José, 1166). Lugar simples, rústico, com cara de sul da Itália. Muitos locais e poucos turistas, vá cedo (por volta das 20H00) ou faça reserva. Pedi vinho em meia garrafa e uma entradinha com funghi, provolone e prosciutto quentes – a famosa provoleta. A entrada estava um pouco pesada, mas acredito que seja por conta dos ingredientes e do preparo. Não peça nenhuma entrada, opte pelo couvert já que você vai pagar mesmo. Tem um torrada de alho que é sensacional. De prato principal fomos de massa, uma recheada com camarão ao estilo asiático eu um raviolini alfredo recheado com presunto. Bom, mas de novo bem pesado, tanto que nem conseguimos pedir a sobremesa. A conta ficou por 1.560 pesos (R$ 156) e o café é grátis. 

O jantar mais pesado do mundo.

Minha opinião? Razoável para bom, mas pesado. Não voltarei tão cedo em próximas visitas.


Dia 3 – Conhecendo a cidade

Começamos o dia com mais uma ótima dica da nossa recepcionista: tomar café da manhã no Oro del Rhin (Plaza Cagancha, 1343). É o mais próximos que há das nossas padarias, com lugar para comer. Pedimos uma refeição parecida com a do Café Tortoni em Buenos Aires – café com leite e chocolate quente e dois tostados. Capítulo à parte, os tostados são iguais aos do Café Tortoni: de presunto e queijo e gigantes. Em dois, peça apenas um! Mais um suco de laranja e a conta bateu em 625 pesos (R$ 62).

Nada como começar bem o dia no Oro del Rhin…
Andando, fomos da 18 de Julho até o Mercado Central, andando pela cidade velha. Passeio interessante, com boas referências históricas e rápido. Chegando ao porto, a região vai se deteriorando e menos agradável para andar. Chegamos no Mercado Central por volta das 11H30. Muito cedo. Entramos em todas as poucas lojas de artesanato do mercado, enrolamos, e ficamos sentados na praça do lado de fora, em um banco. No banco do lado, calmamente, um rapaz degustou dois cigarros de maconha na maior tranquilidade. Efeitos do choque de civilidade do Sr. Pepe Mujica. Após uns bons 45 minutos sentados na praça, decidimos almoçar. Entramos no mercado e já entramos direto no El Pelenque. Todos os outros restaurantes tentarão lhe fisgar, como no Mercado Central do Chile. Fuga deles, e entre sem medo no El Pelenque.

A maravilhosa parilla do El Pelenque.

Dispensamos entradas, ficamos no couvert (um pão artesanal bem quente com manteiga), e pedimos uma taça cada do famoso de medio y medio, que nada mais é do que uma combinação de 50% de vinho branco e outros 50% de espumante. Na minha avaliação, é indispensável pelo charme, pela experiência, mas o paladar não me agradou. Me pareceu um espumante muito carbonado. Indo ao que interessa, pedimos uma picanha grelhada, um filê mignon grelhado e uma batata assada na churrasqueira, mais as fritas que acompanham todo prato de assados. Posso dizer que foi a melhor carne que já comi na minha vida. A conta, que saiu por 1.810 pesos (R$ 180), valeu cada centavo.

O melhor almoço no El Pelenque!

Algo me diz que estamos pertos da… Dica #4: quando você separar o dia para almoçar no Mercado Central, faça logo cedo o City Tour pela capital. Explico: custa aproximados 500 pesos (R$ 50) por pessoa em um ônibus aberto e sai de traz da porta antiga da cidade, do lado do Palácio Presidencial. Quando o fiz, mais à tarde, estava muito frio, então deveira tê-lo feito mais cedo. Além disso, o ônibus passa por lugares bem interessantes da capital, indo para lugares mais novos, pitorescos. Então é bom fazê-lo logo de manhã, para dar tempo de você descer, explorar o local e depois voltar. E por que o combinar com o almoço no Mercado Central? Por que ele é o seu ponto final. Então você passeia, passeia e depois, come muitíssimo bem!

Saindo do El Pelenque, do lado há uma loja de fábrica dos alfajores Punta Balena. Interessante, o melhor café de Montevidéu, e olha que café não é o forte dos uruguaios. Comprinhas feitas. Depois, fomos fazer o City Tour e conhecer as ramblas. 

Eu e minha muçulmana no Sightseeing mais gelado do mundo!

Na nossa última noite em Montevidéu, tentamos pegar um pouco de agito. Escolhemos pelo TripAdvisor um barzinho que fosse simpático, tivesse música, uma boa comida e bebidas. Bem recomendado, achamos o pub Casitanno (Maldonado, 2051). Lugar tranquilo e rústico, não serve vinhos e seu forte são os civitos, uma espécie de xis-tudo uruguaio. Muito bom, pedimos um de carne e outro de frango acompanhados de batatas bravas bem apimentadas e batatas com cogumelos. Muito saboroso, com boas bebidas frias para fechar com chave de ouro a visita a Motenvidéu. A conta bateu em 897pesos (R$ 90 reais) e mais uma vez houve o desconto imediato do imposto.

Seja patriota e coma civito! Juro que existe uma campanha dessas.

Prólogo

Ainda não acabou, eu disse que a última dica ficava para o final. Dica #5: o free-shop de Montevidéu é bem melhor do que o de São Paulo. Perfumes, roupas, e até mostarda de Dijon são mais abundantes e baratos. 

E lógico: os vinhos uruguaios. As garrafas de Bouza Parcela única que eu comprei nele custaram a barbada de U$ 45 enquanto no free-shop de Guarulhos, a linha mais ordinária custava a fábula de U$ 89. Compre tudo no free-shop de Montevidéu!

Minha avaliação final: Montevidéu não é uma cidade barata como a Buenos Aires era nos seus tempos áureos, mas pelo menos no quesito alimentação, as refeições custam em torno de 15% à 20% mais barato que em São Paulo e a qualidade é superior. Vale a pena para uma visita eno-gastronômica rápida.

Meu ranking (top 3):

#3 City Tour no Sightseeing, no horário e clima adequados.
#2 Visitar a Bouza. E o almoço na Bouza.
#1 Almoçar no El Pelenque, no antigo Mercado Central, de cara para o porto. Não caia na besteira de entrar nos restaurantes só porque tem uma hostess brasileira. Vá no El Pelenque.


Fuja enquanto é tempo! (top 3):

#3 A área à esquerda do mercado central – é deteriorada como as piores áreas do centro de São Paulo.
#2 Cassino do Radisson – horrível, só isso.
#1 Mesmo bem localizado, não fique no hotel Iberia Montevideo (Maldonado, 1097). Palavra de amigo.

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